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Doenças monogênicas são aquelas em que a alteração de um único gene é o responsável pela totalidade ou a maioria do quadro clínico apresentado pelo paciente. E, uma vez que esta alteração é encontrada, pode ajudar não apenas no diagnóstico, mas também no tratamento e no desenvolvimento de intervenções específicas. É disso que o professor Alexander Jorge, palestrante do Seminário Científico de outubro, vai falar em sua apresentação “Sequenciamento Exômico na descoberta de novos genes associados a doenças genéticas”. O seminário, organizado pela Comissão Científica e Diretoria Executiva dos LIMs, será realizado no dia 10, às 11h30, no Anfiteatro de Técnica Cirúrgica (4º andar, sala 4104) da Faculdade de Medicina da USP. 

O endocrinologista Alexander Jorge, professor na Faculdade de Medicina da USP e pesquisador nos LIMs 42 (Laboratório de Hormônios e Genética Molecular) e 25 (Endocrinologia Celular e Molecular), vai apresentar os resultados que ele e sua equipe obtiveram em um projeto iniciado em 2014, a partir da análise de exomas em crianças com distúrbios de crescimento.

Entre eles está a identificação de uma paciente com uma mutação nas duas cópias do gene BRCA1 (em homozigose). Este gene é conhecido como o que favorece o câncer de mama e ovário, mas o estudo demonstrou que quando há duas cópias alteradas, ele explica a microcefalia e a baixa estatura grave da menina atendida pelo médico no ambulatório do Hospital das Clínicas.

Outro gene que foi foco de suas pesquisas é o BCL11B. Uma mutação encontrada nesse pedaço de material genético explicou uma deficiência intelectual em um menino também atendido no ambulatório. O estudo foi feito em parceria com pesquisadores da Alemanha, Estados Unidos e Canadá – que ele encontrou através do GeneMatcher, carinhosamente apelidado por ele de “Tinder dos pesquisadores de genes”. “Você joga lá o gene que está estudando e ele te mostra quem no mundo também tem interesse em alterações nele”, explica.

Juntos, eles reuniram 13 casos similares e mostraram que a mutação explica a aparência dos pacientes, a disfunção imunológica e grau variável de atraso cognitivo. Curiosamente, Jorge chegou a esse caso devido a sua pesquisa de base: a genética da baixa estatura. O paciente do ambulatório não crescia conforme o previsto para a idade e virou objeto de estudo do médico. No final das contas, não ficou provado que a mutação no BCL11B estava relacionada com a questão da altura, mas foi fundamental para entender porque o paciente tinha o problema cognitivo.

Fascinado pelo Projeto Genoma (1983-2003) desde os tempos de faculdade, Jorge sabia que um dia ainda iria usar a genética em seus estudos, só não imaginava o leque de possibilidades que encontraria pela frente. “É como um quebra-cabeças”, explica o professor Alexander. “Você está sempre encontrando alguma coisa nova ou inesperada”. No caso da garotinha com microcefalia, por exemplo, eles deduziram que a mãe era uma forte candidata a desenvolver o câncer de mama e logo a alertaram. Bingo: ela estava com um tumor e foi rapidamente encaminhada para tratamento no ICESP.

Até dez anos atrás, sequenciar o exoma completo seria inimaginável devido ao custo e às dificuldades técnicas. Com novas tecnologias, o custo baixou. Para fazer suas pesquisas, Jorge usa uma máquina específica de sequenciamento genético do Laboratório de Sequenciamento em Larga Escala (SELA), da Rede PREMiUM da Faculdade de Medicina e do Hospital das Clínicas da FMUSP.

“O número de estudos utilizando o sequenciamento exômico cresceu bastante graças à novas tecnologia, de forma que, em cinco anos, será possível que todas as doenças monogênicas (causadas pela mutação em um único gene) já estejam mapeadas”, acredita o professor. “Mas aí novas questões virão. Estamos apenas começando a explorar o universo de possibilidades desta nova tecnologia e abordagem”.