“A Construção de um Novo Mal: Representações do Câncer em São Paulo, 1892-1953”, trabalho defendido por Elder Al Kondari Messora em 2017 junto ao departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, receberá o prêmio de Melhor Dissertação de Mestrado 2018 da Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC). A outorga acontecerá durante o 16º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia, de 15 a 18 de outubro de 2018, nas dependências da Universidade Federal de Campina Grande e da Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande, Paraíba.
Orientado pelo Prof. Dr. André Mota, professor do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP e coordenador do Museu Histórico da FMUSP, o trabalho faz um levantamento do processo de construção das representações sobre o câncer em São Paulo. A análise abrange o período de 1892, marco da origem de instituições voltadas à doença, até 1953, quando o Hospital A. C. Camargo foi construído e celebrado nos jornais como um grande trunfo contra esse mal.
A reconstrução da trajetória dessa narrativa social do câncer em São Paulo envolveu uma incursão em notícias publicadas no período, além de relatórios de anuários estatísticos, boletins médicos e teses doutorais. “Carentes de uma especialidade médica voltada para o tratamento exclusivo desse flagelo, restavam aos órgãos públicos registrar o vertiginoso crescimento da mortalidade; paralelamente, os anseios da comunidade hipocrática, na busca de patrocínios para pesquisas e instituições, tal como da população, que queria a cura, ganhavam tonalidade frente a insidiosidade do então chamado ‘mal da civilização’”, escreve o autor, na apresentação de seu trabalho, disponível no repositório de teses e dissertações da USP.
Entre os achados, o autor mostra as dificuldades da comunidade científica de então, evidenciadas em periódicos como o Brazil Medico, ou em dissertações como a do cirurgião Arnaldo Vieira de Carvalho, sobre as definições das formações cancerosas.
Não demoraria para que os paulistas organizassem, em 1934, a Associação Paulista de Combate ao Câncer, uma entidade filantrópica com o propósito de facilitar o diagnóstico precoce, possibilitar a profilaxia, dar assistência hospitalar, social e moral e elaborar pesquisas nos diversos ramos da "cancerologia". Seu fundador, o médico Antonio Prudente, escreveria no ano seguinte o livro "O câncer precisa ser combatido", consolidando um corpo material para essa nova questão de Saúde Pública.
Fundada em 1983 em São Paulo e com sede atualmente no Rio de Janeiro, a SBHC premia a cada dois anos as teses e dissertações que tenham se destacado na temática de história das ciências.