Pular o café-da-manhã foi o comportamento prevalente associado à obesidade entre adolescentes, mostram os resultados a partir de dados coletados de dois estudos, conduzidos na Europa e no Brasil, utilizando metodologias semelhantes. “Mesmo dormindo horas adequadas de sono, ou seja, cerca de 8 horas por dia, se o adolescente ‘pula’ o café da manhã, ocorre um aumento nos marcadores de obesidade geral (IMC) e abdominal (circunferência da cintura e relação cintura-altura) independente de onde ele vive, do sexo, e da duração do sono, sendo este o comportamento mais importante nesta população", explica a autora do estudo, a epidemiologista e pesquisadora, Elsie Costa de Oliveira Forkert, do Grupo de Pesquisa YCARE (Youth/Child cArdiovascular Risk and Environmental) Researsh Group, ligado ao Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP.
Estudos prévios apontam que cerca de 20% dos adolescentes pulam o café da manhã diariamente. Nos estudos em questão, entre meninas, o comportamento é ainda mais habitual, ou seja, 44,5% das europeias e 37,8% das brasileiras têm esse hábito. Entre meninos europeus, a taxa cai para 35,9% e entre os brasileiros, para 34,6%. Mas o desjejum é importante, ressaltam os pesquisadores, especialmente na adolescência, um estágio crítico de desenvolvimento com impacto importante sobre os comportamentos relacionados ao equilíbrio energético (EBRBs, na sigla em inglês).
Segundo Elsie, pular o café da manhã pode influenciar a uma dieta energética desequilibrada durante o dia, colocando o adolescente vulnerável ao ganho de peso. Estudos mostram que o consumo regular do café da manhã está associado a ingesta de micronutrientes e a uma dieta de melhor valor nutricional, como o consumo de frutas e vegetais, lácteos e o menor consumo de bebidas açucaradas. No caso dos adolescentes que pulam o café da manhã, esse hábito o coloca diante de escolhas de alimentos mais calóricos e de baixo valor nutricional.
O trabalho analisou dados de dois estudos, um europeu e outro brasileiro. O brasileiro, intitulado Saúde Cardiovascular do Adolescente Brasileiro (BRACAH Study), avaliou 991 adolescentes com idades entre 14 e 18 anos e foi conduzido em 2007 na cidade de Maringá (PR). Contou com a coordenação do professor Augusto Cesar Ferreira de Moraes, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP.
O estudo europeu é o Healthy Lifestyle in Europe by Nutrition in Adolescence Cross-Sectional Study (Helena-CSS), conduzido entre 2006 e 2007 e que avaliou 3.528 adolescentes de 10 grandes cidades europeias, coordenado pelo Professor Luis Alberto Moreno, da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Zaragoza, na Espanha.
O trabalho vem sendo tema de diversas mídias, sendo destaque também no site da Agência Fapesp. O artigo com os resultados dos estudos está publicado na Scientific Reports.