Responsável por cerca de 5 milhões de mortes prematuras no mundo por ano, a poluição do ar também é protagonista entre as causas das mudanças climáticas globais. Um fator adicional – os extremos de frio e calor esperados como consequência das mudanças climáticas – também se somará ao crescente número de mortes ligadas ao clima. “É uma ameaça grande, mas evitável e controlável. Porém, faltam ações concretas dos governantes”, disse o Prof. Paulo Saldiva, do Departamento de Patologia da FMUSP, que no dia 20 de setembro mostrou os resultados de diversos artigos sobre o clima, publicados por uma rede de cientistas ligada ao Imperial College London, da qual o patologista faz parte.
O tema é tão quente que ganhou uma sessão especial na Organização das Nações Unidas (ONU) no dia 19 de junho, quando um documento apresentado por academias de ciências de quatro países – incluindo o Brasil –, foi entregue aos embaixadores da organização. Na ocasião, foi lançada também a iniciativa Poluição do Ar e Saúde, com o propósito de disparar ações e acordos mundiais sobre o clima. A versão em português pode ser acessada por aqui.
O evento foi organizado pela Comissão de Sustentabilidade da FMUSP e foi acompanhado por uma plateia interessada no tema, que ouviu atenta aos resultados apresentados no Anfiteatro de Clínica Cirúrgica da FMUSP. “Nossos receptores de temperatura, metabolismo e cor da pele levaram milhares de anos para se adaptar aos diferentes locais da Terra. Agora vemos migrações em massa, fome, guerras, poluição e alterações climáticas que nos colocam diante de uma necessidade de adaptação muito rápida e sem precedentes. As consequências disso já estamos vendo. Há um aumento do número de mortes devido à poluição, que é uma das maiores causadoras das mudanças climáticas globais”, alertou Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.
“Criar esse documento e lançar a ação Poluição do Ar e Saúde foi uma iniciativa de cientistas que produzem ciência de boa qualidade e esperam ver os resultados de suas pesquisas aplicados para o bem-estar das pessoas”, segundo o professor. O documento foi produzido por cientistas da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Academia de Ciências da África do Sul, da Academia Nacional de Ciências da Alemanha Leopoldina, da Academia Nacional de Medicina dos EUA e da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Entre os cientistas brasileiros participantes estão o Prof. Nelson Gouveia, do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, o Acadêmico e professor do Instituto de Física da USP, Paulo Artaxo, além da pesquisadora Maria de Fatima Andrade, do Departamento de Ciências Atmosféricas da USP, e a Acadêmica Simone Georges El Khouri Miraglia, do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas, Unifesp, além do Prof. Saldiva.
Segundo o documento, se houver uma redução de poluentes de curta duração como o metano, e o carbono negro, seria possível reduzir o aquecimento global por até 0.5°C nas próximas décadas, ao mesmo tempo evitando 2.4 milhões de mortes prematuras.
“Agora estamos adaptando esse documento para o Brasil e entregaremos às autoridades correspondentes. Lamento o fato de que saúde não tenha um capítulo exclusivo dentro dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Trata-se de uma necessidade importante e urgente, mas sem vozes ou argumentos porque a opção energética está posta”, disse o Prof. Saldiva.
Abaixo, assista ao vídeo da palestra.