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A Organização Mundial da Saúde (MOS) publicou as novas Diretrizes Globais de Qualidade do Ar, em 22 de setembro de 2021, que mostram os danos causados pela poluição atmosférica na saúde humana, e recomenda valores toleráveis de concentração de poluentes no ar ainda menores. A temática é estudada há muitos anos por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), uma das instituições de mais destaque no mundo na produção de artigos sobre poluição e saúde.

O Prof. Paulo Hilário Nascimento Saldiva, do Departamento de Patologia da FMUSP, participou da revisão desses padrões divulgados recentemente pela OMS. Ele também trabalhou como membro do comitê para a elaboração das diretrizes divulgadas anteriormente, em 2005, juntamente com o Prof. Nelson da Cruz Gouveia, do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. A proposta da OMS é que essas informações possam servir para todos os países alcançarem níveis de qualidade do ar recomendados, com base em evidências, de forma gradual e com benefícios significativos na redução de doenças.

“A contribuição da equipe do Departamento de Patologia da FMUSP, a minha e de outros pesquisadores da FMUSP está na produção científica sobre o tema da poluição do ar, que somados a estudos realizados em outras partes do mundo, são utilizados pela OMS para as atualizações periódicas dos guias de qualidade do ar”, afirma o Prof. Nelson Gouveia, que realiza pesquisas epidemiológica que vem mostrando os efeitos e impactos da poluição do ar na saúde. 

A pesquisadora Mariana Matera Veras, Chefe do Laboratório de Patologia Ambiental e Experimental (LIM/05) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, relatou que existe uma mudança grande nos padrões de qualidade do ar da OMS e que eles variam conforme os avanços do conhecimento. A pesquisadora provoca o questionamento: “Quais os efeitos na saúde? Quais seriam os limites seguros? Qual a relevância em termos de saúde pública? O Que justifica o Brasil não estar alinhado com essas diretrizes da OMS?”. Ela afirma: “existe uma desigualdade significativa do efeito da poluição na população e no nosso país não há políticas públicas consistentes”. Mariana Veras cita como exemplos de iniciativas que foram deixadas de lado, a frota de ônibus cem por cento limpa e a inspeção veicular, além disso, ela reitera que “o custo da poluição do ar é muito alto” e do “ponto de vista da saúde inaceitável”.  

Poluição e Saúde na FMUSP

Os estudos sobre poluição do ar na FMUSP foram consolidados com o Prof. Emérito György Miklós Böhm, do Departamento de Patologia, que, em meados dos anos 1970, apresentou o projeto de criação do Laboratório de Poluição Atmosférica à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), implementado em 1979 com o aporte de verba do Estado de São Paulo. Inicialmente, os ensaios foram na linha de investigação e comparação da toxicidade de diferentes combustíveis. No final dos anos 1980, o Laboratório recebeu um reforço, com o ingresso do Prof. Paulo Saldiva ao Corpo Docente da FMUSP, o que ampliou as atividades e pesquisas na área de poluição e saúde humana e outros temas correlatos.

Atualmente, o Laboratório possui linhas de pesquisas em patologia pulmonar; poluição atmosférica e seus efeitos sobre a saúde humana; toxicologia ambiental; fisiopatologia da lesão pulmonar aguda; mecânica pulmonar; imunopatologia e remodelamento da asma; patologia da doença pulmonar obstrutiva crônica; epidemiologia ambiental e educação ambiental; e patologia pulmonar à autópsia. 

A pesquisadora Mariana Veras declarou que na área já existem muitas evidências, mas cada vez mais, novos efeitos dos poluentes vão sendo descobertos.  Ela cita como tópicos relevantes para estudo do LIM/05 a “associação da poluição com doenças neurodegenerativas, o que é extremamente relevante atualmente, quando se fala de Alzheimer e o aumento dessas incidências; síndromes metabólicas; desenvolvimento do sistema nervoso com destaque para neurodegeneração; doenças autoimunes e etc.”. O Laboratório também tem destaque pelas “investigações sobre a poluição do ar, os seus efeitos nas mudanças climáticas e quais os resultados que implicam na na saúde”, uma linha de pesquisa liderada pelo Prof. Paulo Saldiva.

Inicialmente, as investigações na FMUSP aconteceram pelo aspecto de se havia de fato efeitos à saúde dos níveis ambientais de poluição, o que “foi crescendo, a ponto de que, hoje, existem evidências sólidas de a que a poluição é talvez o maior fator ambiental responsável pela carga de doenças”, afirma o Prof. Roger Chammas, Vice-Diretor da FMUSP. 

Acesse o novo guia de Diretrizes Globais da OMS em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/345329