Temos hoje a alegria de retomar as dicas de leitura e as nossas primeiras indicações de 2021 são de dois importantes estudos sobre o movimento eugênico levado a cabo no Brasil e na América Latina na primeira metade do século XX.
O primeiro deles é o livro “A hora da Eugenia: raça, gênero e nação na América Latina”, de Nancy Stepan, lançado em 1991 e traduzido para o português pela Editora Fiocruz em 2005. Ao se debruçar sobre o movimento eugênico latino-americano entre 1910 e 1940, a autora desfaz mitos historiográficos, como a sua irrelevância frente ao movimento eugênico internacional e sua automática identificação com a eugenia nazista. Segundo a autora, na experiência latina, a demanda por "regeneração nacional" e "aprimoramento racial" não gerou políticas de esterilização dos ditos "inaptos e inferiores", mas buscou caminhos originais e perversos para "civilizar" a América Latina e suas populações.
A outra indicação é a do livro “Renato Kehl e a Eugenia no Brasil: ciência, raça e nação no período entreguerras”, que foi produzido a partir da pesquisa de mestrado de Vanderlei Sebastião de Souza e lançado em 2019 pela Editora Unicentro. O autor faz um estudo introdutório sobre a eugenia no Brasil e sua relação com o movimento em outros lugares do mundo, assim como busca compreender a circulação, as apropriações e os embates que as ideias eugênicas geraram no Brasil. Ao analisar com profundidade a produção de Renato Kehl, o livro aponta que tal personagem encarava a miscigenação racial como responsável por uma suposta degeneração dos brasileiros que prejudicaria o progresso do país e defendia medidas como esterilização, controle matrimonial, seleção de imigrantes e outras políticas para a “purificação racial” e a eliminação dos “degenerados”.
Obras:
STEPAN, Nancy Leys. A Hora da Eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005.
SOUZA, Vanderlei Sebastião. Renato Kehl e a eugenia no Brasil: ciência, raça e nação no período entreguerras. Paraná: Unicentro, 2019.