Em 1925, a Faculdade de Medicina recebeu de Antonio Bernardes de Oliveira, um aluno de origem portuguesa, a doação de um documento extremamente raro: uma Bula Papal do século XIV que, anos depois, passou a compor o acervo de seu Museu Histórico. Tal item é o mais antigo dentre os pertencentes à FMUSP e é um dos documentos de maior datação entre todos os acervos da Universidade de São Paulo, uma vez que foi produzido no ano de 1345 pelo Papa Clemente VI (1291 – 1356) e endereçada ao Arcebispo de Braga, Portugal.
Em outubro de 2009 o Museu Histórico estabeleceu uma parceria com o Núcleo de Conservação e Restauro Edson Mota – NUCLEM – da Escola SENAI Theobaldo De Nigris de Artes Gráficas, Celulose e Papel para, empreender o tratamento e restauro da bula que, naquela ocasião, encontrava-se emoldurada com materiais inadequados para sua conservação, como papéis e cartões ácidos. A bula em questão é em pergaminho, manuscrita em latim com tinta metaloácida marrom na face interna da pele, com o conteúdo textual e data. Do lado externo da pele, informações manuscritas em tinta metaloácida marrom mais escura, sendo um resumo do conteúdo.
Encaminhamos este item já desmontado pelo técnico em conservação do Museu ao laboratório do SENAI. Ele possuía algumas sujidades, manchas de manuseio e de tinta marrom e resíduos de fitas adesivas nas bordas laterais, superiores e inferiores, provavelmente usadas para fixar a obra à montagem anterior. Apresentava vincos e ondulações bastante pronunciados e suporte pouco flexível; marcas de três dobras horizontais e três dobras verticais; uma perda de suporte na borda inferior da plica; marcas de abrasão. Os pigmentos da tinta da escrita estavam em bom estado, apesar de leve esmaecimento do anverso, que ficara exposto à radiação luminosa devido à montagem anterior.
Devido ao estado de conservação da bula, esta foi submetida aos seguintes procedimentos de conservação:
• Documentação fotográfica e fichamento;
• Remoção do selo e posterior recolocação;
• Testes para verificar possibilidades de tratamento, resistência do suporte, pigmentos e adesivos possíveis de serem aplicados, a fim de expor a obra aos menores riscos possíveis;
• Higienização para remoção de sujidades superficiais;
• Aplanamento contínuo em câmara de umectação controlada para hidratação e relaxamento do pergaminho;
• Colocação sob leve pressão controlada para reduzir deformações e vincos;
• Montagem realizada com cartões de qualidade museológica e em passe-partout duplo. Moldura em madeira com vidros de qualidade museológica, sem reflexo e com filtros anti UV.
• Fixação do pergaminho no cartão através de tiras torcidas de papel japonês por toda a borda, permitindo a movimentação do pergaminho sem que ele sofra deformações.
A moldura e a montagem elaboradas com esses aspectos de conservação protegem a obra da interação com o meio ambiente, bem como permitem a exposição da obra de forma segura, ao proporcionar a visualização de ambas as faces sem a necessidade de manuseio direto.
Para maiores informações, acesse: https://fm.usp.br/museu/